Conferencia "Michel Foucault y las artes"

El viernes 25 de julio tendrá lugar la conferencia "Michel Foucault y las artes", organizada en la Facultad de Artes de UdelaR en el marco del programa de profesores visitantes del Centro Franco-Uruguayo de Altos Estudios. Aunque son conocidos algunos textos de Foucault, en particular con relación a "Las Meninas" y a "Ceci n'est pas une pipe", el interés de Foucault por el arte y en especial por la pintura incluye un número mayor de obras y de artistas. Por otro lado, el período inicial de la obra foucaldiana estuvo marcado por la polémica en torno a la posible explicación conceptual  de todo texto, más allá del soporte semiótico que habilitara la significación (literatura, música, pintura, etc.). Esa coyuntura provino del exitoso análisis estructural de los mitos, que formalizó conceptualmente un trasfondo que se tenía por "irracional" en nuestra civilización. En ese contexto de auge estructuralista surge el planteo foucaldiano del discurso, que abrirá una de las vías más fecundas y removedoras de la teoría, como tal, transversal a distintos campos y tradiciones del saber.

El Dr. Alesssandro de Lima Francisco dirige un programa de investigación en el Colegio Internacional de Filosofía y ocupa el cargo de Profesor de la Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho Parcial.

Sigue el resumen en portugués de la conferencia que dictará el Prof. Alessandro de Lima Francisco.

 

Michel Foucault e as artes

Conferência na UdelaR

25 de julho de 2025

Resumo

Em 1969, dialogando com a crítica em relação ao trabalho que havia realizado até então e inspirado numa discussão metodológica com o Círculo de epistemologia da École normale supérieure de Paris promovida um ano antes, Michel Foucault publica A arqueologia do saber, livro no qual busca dar precisão à abordagem de análise de discurso que havia praticado em pesquisas anteriores.

Ao final do livro, ele abre a possibilidade de “outras arqueologias”, diferentes daquelas que havia realizado, como nos casos da “arqueologia [de um] silêncio”, de “uma arqueologia do olhar médico” e de “uma arqueologia das ciências humanas”. Uma das “outras arqueologias” seria uma arqueologia da pintura, uma vez que, sempre segundo Foucault, ao menos em uma de suas dimensões a pintura é discursiva. É possível afirmar que ele próprio levou a cabo essa proposta, se tomamos por base as conferências e os artigos elaborados após 1969 sobre as pinturas de Édouard Manet, René Magritte, Paul Klee e Gérard Fromanger, por exemplo. Entretanto, seu exame não se limitou a esse domínio. Foram explorados também o cinema, o teatro, a música e mormente a literatura. Basta recuperar seus artigos acerca da encenação elaborada por Patrice Chéreau para o centenário d’O anel dos nibelungos, ciclo de óperas de Richard Wagner, ou da música de Pierre Boulez.

Das arqueologias por ele sugeridas, aquelas que se debruçam sobre as artes são as menos discutidas, ainda que haja incursões neste terreno e que elas tenham se multiplicado. Por exemplo, do conjunto de colóquios realizados sobre suas pesquisas, apenas dois, que tenhamos conhecimento, dedicaram-se a abordar o assunto: Michel Foucault, la littérature et les arts, organizado por Philippe Artières em parceria com o Centre Michel Foucault em junho de 2001, e Foucault et les arts, organizado por Judith Revel, Fabienne Brugère e Arianna Sforzini, em março de 2017.

Assim, esse horizonte de análise se mantém fecundo, e apresenta ao menos três grandes desafios. Dois deles circunscritos ao campo do trabalho já realizado por Foucault, de modo que sua apreciação pode, portanto, ser empreendida com base em seus ditos e seus escritos. O terceiro, extrapola esse âmbito e pode promover um prosseguimento, e mesmo uma ampliação considerável, da investigação arqueológica.

Primeiramente, é preciso compreender a distância entre os estudos dos contemporâneos de Michel Foucault, que tem por foco o problema da emergência do sentido, e a história dos sistemas de pensamento por ele sugerida, cujo método é arqueológico e cujo objetivo é delimitar, na história da cultura ocidental, os diversos regimes de organização obedecidos pelos discursos. Este ponto nos auxilia a distinguir, por exemplo, a perspectiva arqueológica da pintura da perspectiva adotada nos estudos de historiados e críticos de arte como Jean Starobinski e Daniel Arasse, e até mesmo a diagnosticar a dificuldade eles enfrentaram em compreender com nitidez os elementos sobre os quais Michel Foucault se debruçava.

O segundo desafio corresponde à distinção entre linguagem e discurso, uma vez que a arqueologia não se inscreve propriamente no campo da filosofia da linguagem ou da filosofia analítica, ainda que um denso diálogo filosófico com as reflexões de Wittgenstein, Peirce, Austin, Searle, entre outros tenha sido a condição de sua formulação. Toda uma filosofia do discurso teve de ser elaborada para que uma história do pensamento de cunho arqueológico fosse possível.

O terceiro e último desafio corresponde aos limites entre os planos discursivo e extra-discursivo. Ele nos obriga a retomar o debate desdobrado no horizonte da dificuldade anterior, isto é, o problema da distinção entre discurso e linguagem, para em seguida ampliar a própria noção de discurso. A quase identidade entre discurso e pensamento, que pode ser estabelecida por pistas oferecidas em seus escritos – como as expressões “discurso-pensamento” e “descrição do pensado” – e na aproximação inequívoca por ele apresentada entre história do pensamento e análise do discurso, autoriza a diferenciar a dimensão linguística daquela discursiva, ou seja, permite indicar que nem tudo o que nos diz algo o faz pela fala ou pela escrita. Um gesto, uma escultura, um quadro, uma imagem não falam em absoluto, mas são todos capazes de dizer algo que excede os limites da língua.

Enfim, a discussão proposta não deixa de ser atravessada por outra questão filosófica que, apesar de não ser nosso objetivo fundamental, tem sua resposta ao menos esboçada: o que é a arte? Por esse esboço, explicita-se um elemento que tanto aproxima quanto distancia as concepções de arte elaboradas por Gilles Deleuze e Félix Guattari e por Michel Foucault, qual seja a paridade entre arte e pensamento.